Capacidades biomotoras do treinamento funcional




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   Capacidade biomotora é cada um dos componentes físicos desenvolvidos pelo corpo. De acordo com Bompa (2002), a combinação entre força, velocidade, resistência, coordenação, flexibilidade e equilíbrio é fundamental para o sucesso nas atividades motoras e interligar essas seis ações é o objetivo do TF. Sendo assim, o programa de exercícios deve contemplar essas capacidades a fim de possibilitar um desempenho satisfatório nas atividades motoras dos seres humanos.

    O posicionamento oficial das principais entidades relacionadas ao exercício e saúde (Carvalho, 1997; Garber, 2011) afirma que um programa regular de exercícios físicos deve possuir pelo menos três componentes: aeróbio, sobrecarga muscular e flexibilidade, variando a ênfase em cada um de acordo com a condição clínica e os objetivos de cada indivíduo. Assim sendo, supõe-se que a combinação dessas três modalidades de treinamento é suficiente para promover adaptações positivas sobre as seis principais capacidades biomotoras supramencionadas.

    No entanto, alguns entusiastas do treinamento de força (Teixeira e Guedes Jr., 2009; 2010) afirmam que esse tipo de treinamento, isoladamente ou em conjunto com outra modalidade, pode contribuir para a melhora de todas as capacidades biomotoras e, portanto, poderia ser enfatizado nos programas de TF.

Resistência

    Resistência é a capacidade de resistir à fadiga diante da utilização de uma ou mais capacidades biomotoras (Platonov, 2005).

    De acordo com Wilmore e Costill (2001), endurance é o termo que descreve dois conceitos separados, mas que estão relacionados à resistência muscular e à resistência cardiorrespiratória. Enquanto a resistência muscular está relacionada a músculos individuais, a resistência cardiorrespiratória é a capacidade de todo o corpo sustentar o exercício prolongado.

    Segundo Campos e Coraucci Neto (2004), a resistência (cardiovascular e muscular) é importante no TF porque diminui ou retarda o aparecimento da fadiga que debilita a propriocepção e aumenta o rendimento aeróbio e anaeróbio, vitais para a manutenção ou melhoria da capacidade funcional. A capacidade de resistir num exercício predominantemente aeróbio garante a competência metabólica para que determinadas tarefas motoras possam ou não ter uma resposta eficiente (Jenkins, 2005).

    Em um estudo realizado por Gettman e Pollock (1981), através do treinamento de força realizado em circuito, indivíduos observaram aumento moderado no VO2 máx. de 4 % nos homens e 8 % nas mulheres, após 8-20 semanas de treinamento.

    Além do aumento moderado na capacidade cardiorrespiratória, o treinamento de força tem se mostrado eficiente em promover aumento no desempenho de corredores de longa distância (Johnston et al., 1997; Jung, 2003).

    Com relação específica à resistência de força, o treinamento resistido se mostra bastante eficaz em melhorar essa capacidade (Guedes Jr. et al., 2008; Teixeira e Guedes Jr., 2009; 2010).

Equilíbrio

    Coutinho (2011) define equilíbrio como a interação harmoniosa e contextualmente apropriada entre a estabilidade e a mobilidade do corpo, respeitando a sua base de sustentação. O equilíbrio é composto das reações involuntárias dinâmicas de sensações e impulsos para manter uma postura ereta e movimentos funcionais (Gomes, 2010).

    Garber (2011) afirma que o treinamento de força, além de aumentar a massa e força muscular, a densidade mineral óssea, o equilíbrio dinâmico e os níveis totais de atividade física, também diminui os riscos de quedas e fraturas ósseas. Outros estudos também observaram melhora no equilíbrio de pessoas, principalmente idosas, submetidas a programas de treinamento de força (Silva et al., 2008, Nelson et al., 1994).

    Fiatanori et al (1990) observaram melhoras significativas da força em indivíduos com idades entre 86 e 90 anos submetidos a 8 semanas de treinamento de força, sendo verificados aumentos médios de 177% na força do músculo quadríceps. Tal ganho foi acompanhado de um aumento de 50% na velocidade da marcha, sendo que 20% dos praticantes conseguiram abdicar de suas bengalas para se locomoverem, o que indica melhora do equilíbrio, apesar da não realização de teste específico no referido estudo.

Velocidade

    Segundo Barbanti (1996), velocidade é definida como a máxima rapidez de movimentos que pode ser alcançada. Santos et al. (2010) afirmam que a velocidade no esporte é a capacidade de atingir maior rapidez de reação e de movimento, de acordo com o condicionamento específico, baseada no processo cognitivo, na força máxima de vontade e no bom funcionamento do sistema neuromuscular.

    Bompa (2002) cita que grande parte da capacidade de velocidade é determinada geneticamente, pois quanto maior for a proporção de fibras musculares de contração rápida, maior será a capacidade de contração rápida e explosiva do organismo. Porém, apesar da relação da velocidade com a genética, essa capacidade é treinável.

    A velocidade motora resulta, portanto, da capacidade psíquica, cognitiva, coordenativa e do condicionamento, sujeitas às influências genéticas, do aprendizado, do desenvolvimento sensorial e neuronal, bem como de tendões, músculos e capacidade de mobilização energética (Weineck, 2003).

    Segundo Zatsiorsky e Kraemer (2008), um dos pré-requisitos para a alta velocidade de movimentos é o aumento da força máxima. Os mesmos autores afirmam que enquanto uma flexão do cotovelo com peso depende de 13% da capacidade da força máxima, a velocidade desta flexão depende de 39% da capacidade de força máxima, portanto, se a flexão passar a depender de 51% da força máxima, então, a velocidade desta flexão dependerá de 71% da força máxima. Esta afirmação explica a interdependência entre força máxima e velocidade de movimento, sendo que o aumento da primeira leva ao conseqüente aumento da segunda.

    De fato, estudos prévios observaram aumento na velocidade de movimentos em decorrência de programas de treinamento de força, tanto em atividades cotidianas (Macaluso e De Vito, 2004), como em performance esportiva (Wilson et al., 1996)

    Macaluso e De Vito (2004) conduziram um estudo de revisão da literatura sobre as adaptações decorrentes do treinamento de força em indivíduos idosos. Dentre as adaptações mencionadas, os autores citam várias publicações que observaram aumento na velocidade de marcha (máxima e usual) em idosos submetidos a programas de treinamento de força.

    Wilson et al. (1996) demonstraram aumento significativo na performance no teste de sprint de 40 metros após 8 semanas de treinamento de agachamento. No entanto, o aumento na performance de velocidade (2,3%) foi menor que o aumento da força muscular (21%). Esses resultados não são consenso na literatura.

Coordenação

    Conforme afirmam Gallahue e Ozmun (2001), a coordenação motora é a capacidade do cérebro de equilibrar os movimentos do corpo, mais especificamente, dos músculos e das articulações. A coordenação motora é uma das capacidades físicas mais requeridas nas atividades cotidianas, principalmente, nas atividades que exigem precisão.

    Porém, no envelhecimento, atividades comuns também apresentam alta exigência de coordenação de movimento, o que pode ser um limitante funcional em pessoas com essa capacidade prejudicada. Em uma pesquisa realizada por Glaner (2003), foram obtidos dados que mostraram que dos acidentes com idosos, 70% são devido a uma diminuição na capacidade de andar, correr, saltar e coordenar movimentos, logo, torna-se necessária a melhora da coordenação para esta faixa etária.

    De acordo com alguns autores do segmento do treinamento de força (Fleck e Figueira Jr.; 1997; Guedes Jr. et al., 2008; Teixeira e Guedes Jr., 2009), essa modalidade de treinamento parece ser bastante eficiente em promover melhora da coordenação motora, principalmente, através das adaptações neuromusculares associadas à coordenação intermuscular e intramuscular, sendo que essas adaptações podem ser observadas após poucas sessões de treinamento.

Flexibilidade

    Flexibilidade é compreendida como a habilidade para mover uma articulação por meio de uma amplitude de movimento sem estresse para a unidade (Campos e Coraucci Neto, 2004). De acordo com Badaro et al (2007), a flexibilidade é muito importante, pois favorece uma maior mobilidade nas atividades diárias e esportivas, diminui o risco de lesões, favorecendo o aumento da qualidade e quantidade de movimentos e uma melhora da postura corporal.

    Referências indicam que a melhor intervenção para melhora da flexibilidade são os exercícios de alongamento por ser uma forma de trabalho que visa à exploração de graus de amplitude de movimento (ADM) habitualmente não explorados no cotidiano (Badaro et al., 2007).

    No entanto, estudos têm observado ganhos moderados de flexibilidade em decorrência do treinamento de força utilizando exercícios com ADM completa. Cortes et al (2002) e Thrash e Kelly (1987), concluíram, em seus respectivos estudos, que um programa de treinamento com pesos (musculação) para desenvolver força muscular não prejudica a flexibilidade, podendo, ao mesmo, manter os níveis, ou até aumentar a amplitude de determinados movimentos. Weineck (2003) mostra através dos ginastas que possuem uma musculatura bem desenvolvida combinada com uma extraordinária flexibilidade, que o aumento da massa muscular não necessariamente está associado a uma restrição da flexibilidade.

    Em estudo realizado por Beedle et al (1991), que tinha o objetivo de comparar a flexibilidade de ombro e cotovelo de fisiculturistas, jogadores de futebol universitário, levantadores de peso e um grupo controle, ficou evidenciado que levantadores de peso tinham flexibilidade mediana ou acima da média na maioria das articulações e que comparados a outros atletas ficavam inferior apenas aos ginastas.

Força

    De acordo com Campos e Coraucci Neto (2004), a força é uma capacidade física imprescindível para a manutenção ou aprimoramento da capacidade funcional do corpo humano, sendo a base para resistência muscular, velocidade, equilíbrio, coordenação e flexibilidade.

    Força muscular é o produto de ações musculares e do sistema nervoso (Bossi, 2011) e é compreendida como a capacidade do músculo esquelético produzir tensão, força e torques máximos em uma determinada velocidade (Dantas e Coutinho, 2010).

    Diversas formas de exercício são eficientes em aumentar a força muscular, no entanto, o treinamento de força se mostra a intervenção mais eficaz em qualquer tipo de público (Teixeira e Guedes Jr., 2009; 2010).

    Em estudo realizado por Fontoura et al. (2004), meninos pré-púberes, após 12 semanas de treinamento, aumentaram significativamente a força máxima de extensão de joelho e flexão de cotovelo em 78 e 67%, respectivamente. O grupo controle não modificou estatisticamente os valores de força.

    Azevedo et al ( 2007) conduziram estudo no qual analisaram os efeitos de quatro semanas de treinamento resistido sobre diversas variáveis, dentre as quais, a força muscular máxima através do teste de 1RM. Após programa de treinamento, os autores observaram aumento na força máxima em membros inferiores e superiores, comprovando a eficiência do treinamento de força em promover aumento nessa variável.

Fonte





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